Minha história com o xadrez
Eu lembro de ter ouvido falar sobre xadrez pela primeira vez por volta dos meus 12 ou 13 anos, quando disseram que era um esporte mental — e é mesmo — e que eu deveria aprender, mas por não conhecer quem jogasse ou ter acesso a qualquer material, me desmotivei e acabei esquecendo.
Só tive contato com alguém que jogava quando comecei o terceiro ano do ensino médio, quando um novato da sala falou sobre xadrez e disse que procurava com quem jogar.
Isso foi no início das aulas, na segunda metade de fevereiro.
Após conversarmos, ele disse que me ensinaria para que pudéssemos jogar, só que ele me ensinou apenas o básico: posição do tabuleiro, movimento das peças e regras. Só isso!
Jogamos três partidas e perdi todas, claro!
Isso me desmotivou, pois eu queria saber mais, mas percebi que se dependesse dele eu não iria aprender mais do que aquilo.
Comentei com minha mãe que precisava de alguém para me ensinar ou que pudesse me dar algumas dicas. Foi quando ela disse que eu nunca precisei de ninguém para me ensinar alguma coisa, nem para aprender a ler (quer saber dessa história? Leia aqui), e que fosse atrás do que precisava e aprendesse sozinho mesmo.
Depois de uma pesquisa, encontrei uma loja que vendia tabuleiro e peças, mas também precisaria de algum livro para poder estudar.
O jogo de peças era vendido em uma loja de brinquedos aqui na cidade e meu pai comprou para mim, lembro que custou R$ 27. Já o tabuleiro, eu mesmo comprei e custou apenas R$ 5, o que hoje deve ser em torno de R$ 20. Era um tabuleiro Xalingo que, infelizmente, cupins acabaram destruindo muito tempo depois. Já as peças estão intactas ou quase, já que um peão está levemente roído por uma pinscher chamada Mara, que se tornou inesquecível graças a essa travessura.
Em outra conversa com minha mãe, mas sobre livros de xadrez, Zenaide me ouviu (quer saber sobre ela? Então leia aqui) e disse que tinha um manual de xadrez, mas que estava emprestado e que, se eu fosse buscar, poderia ficar com o livro para mim.
O livro é Manual de Xadrez, de Idel Becker, que foi médico, professor e enxadrista brasileiro nascido na Argentina em 28 de dezembro de 1910, mas ele só nasceu na Argentina porque seus pais moravam em Erebango, RS, e lá não tinha recursos médicos, por isso eles atravessaram a fronteira e retornaram ao Brasil 15 dias depois de Idel ter nascido.
Tenho até hoje a 15ª edição, de 1980, com dedicatória ao filho dele, Eduardo Becker, morto em 21 de outubro de 1976, aos 25 anos de idade, e que foi o desenhista da capa que permanece até hoje!
Idel Becker faleceu em 12 de junho de 1994, Dia do Enxadrista, mas ainda permanece vivo em seus livros. Escreveu mais de 20 livros em temas variados. Seus dois livros de xadrez foram Manual de Xadrez, escrito em 1948, e Aberturas e Armadilhas, escrito em 1969. Além dos livros, ele escreveu colunas sobre xadrez em diversos jornais.
Retornando à minha história, esse livro foi fundamental para meu desenvolvimento e, em uma semana, já tinha avançado bastante na compreensão do jogo, tanto que venci as três partidas seguintes contra o novato da sala que havia me ensinado a movimentar as peças.
Depois disso, ele evitou jogar comigo, mas comecei a encontrar outros jogadores na minha vizinhança. No meio de março, fui à diretoria para pedir que a escola montasse uma equipe de xadrez para competir e antes daquele mês terminar, a escola me perguntou se eu não queria ficar responsável por montar as equipes da escola. Após algumas conversas, me deram um horário e uma sala com mesas, cadeiras, tabuleiros, peças e um quadro de xadrez (um grande tabuleiro que fica pendurado) que é usado para dar aulas.
Já no fim de abril começamos as primeiras aulas com alguns alunos e conseguimos montar três equipes: masculina infantil e juvenil e feminina juvenil.
Virei bolsista da escola e professor de xadrez aos 17 anos.
Em junho, na primeira competição que participamos, a equipe masculina juvenil ficou em segundo lugar, quebrando a hegemonia de duas escolas que se alternavam na primeira colocação e, sempre, uma ficava vencia e a outra ficava em segundo lugar.
As equipes de xadrez são compostas por três ou quatro atletas: 1º, 2º e 3º tabuleiro, podendo ter um reserva. O 1º tabuleiro de uma equipe (geralmente o melhor jogador) joga contra o 1º da outra e assim sucessivamente. No caso de alguém faltar e precisar substituir, os tabuleiros sobem e o reserva preenche a vaga do 3º tabuleiro. Exemplo: no caso do 2º tabuleiro faltar, o 3º assume a vaga do 2º tabuleiro e o reserva fica como 3º tabuleiro.
Na época em que comecei a ensinar, incluí uma hora de treino de xadrez em minhas atividades diárias, estudando desde aberturas até meio-jogo e estratégia, além de observar a didática dos livros.
Infelizmente, ao concluir meus estudos, não pude permanecer ensinando xadrez naquela escola, mas duas décadas depois fui professor novamente, mas em outra escola, só que voltado ao ensino pedagógico em fez de competição, pois é realmente importante aprender xadrez em qualquer idade, ainda mais quando criança. Ajuda a desenvolver a memória, a atenção, a noção de responsabilidade e tantas outras qualidades, por isso deixarei algumas aulas aqui no site, ensinando o básico, o necessário para que se possa aprofundar por conta própria.
Já adiantando: o tabuleiro de xadrez, assim como o de damas, é posicionado como mostra a imagem, com a casa branca no canto inferior direito.
Quer ler a primeira aula de xadrez? Então clique aqui!
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